segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A importância do Jornalismo Local na Era da Desinformação

Digital


Edição 1308 | por Ana Julia Storti Rosendo | 3 de outubro de 2024



(Foto de Vojtech Okenka – Pexels)(Foto de Vojtech Okenka – Pexels)


A Desinformação é, no século XXI, um dos problemas sociais mais graves enfrentados pela população. Grande parte da sociedade tem seus pensamentos, ideias e ideais moldados pelas Fake News, sem ao menos saber o poder das notícias falsas sobre eles. Na pandemia de Covid-19, por exemplo, em 2020, vimos como informações inverídicas, distorcidas ou mal apuradas podem levar uma nação inteira ao pânico.

Podemos afirmar que vivemos a Era da Desinformação. O principal ingrediente que alimenta, dia após dia, a sobrevivência dessa patologia social são as redes sociais, que, se analisadas apenas como um meio de entretenimento, parecem inofensivas – ou, pelo menos, passam essa imagem a seus usuários.

O mundo globalizado faz com que as pessoas estejam cada vez mais conectadas entre si, por meio da internet. Nas redes sociais, os conteúdos se espalham exponencialmente e chegam ao outro lado do mundo em questão de segundos. Não podemos dizer que isso seja uma característica integralmente ruim – os avanços tecnológicos levaram o homem a lugares inimagináveis. Porém, pensemos criticamente, fora da caverna: as redes sociais são terras sem dono.

Apesar de políticas de privacidade e regulamentos dos apps, em nossos perfis e páginas pessoais podemos postar tudo o que desejamos e acreditamos. Ao mesmo tempo que somos autores de nossos feeds, somos bombardeados por informações de todos os cantos: páginas oficiais, sites de fofoca, amigos e familiares que seguimos nas redes sociais. Temos contato com conteúdos diversos, de forma simples, rápida e, muitas vezes, convincente e apelativa. As questões que nos perseguem são: podemos acreditar em tudo o que vemos? Qual arma podemos usar contra a alienação que tenta nos dominar todos os dias? Qual profissão e quais profissionais temos ao nosso favor em defesa da verdade?

Acredito que a resposta seja o Jornalismo. Talvez essa seja a missão mais humana desses profissionais: informar a todos, sejam eles quem forem, a verdade – e somente isso. Como campo profissional, o Jornalismo perdeu força e espaço nas últimas décadas, por conta das redes sociais que chegaram ganhando fãs a cada esquina. Porém, jornalistas dedicam um cuidado ímpar à informação. Diferentemente do que ocorre na internet, onde um conteúdo é postado para ganhar curtidas, comentários e viralizar a todos os cantos, para o Jornalismo, a informação é algo que, antes de circular, requer cuidados – para proteger seus próprios leitores.

Para jornalistas, todas as informações que chegam, por diferentes meios, dos mais ao menos prestigiados, devem ser analisadas, confirmadas e, então, entregues ao público, seja pela televisão, sites ou redes sociais, ou, até mesmo, em jornais impressos.

Mais do que o Jornalismo em seu sentido amplo, pensemos na importância do Jornalismo Local ou Regional. Muitas vezes, os veículos ou mídias de massa não conseguem apurar situações e informações que circulam em contextos mais específicos, como pequenos municípios; as informações que atingem maior quantidade da população acabam sendo as mais disseminadas.

A valorização do Jornalismo Local prova sua importância neste momento; não apenas para espalhar informações verídicas e importantes para toda a população, mas também com seu poder de cobrar políticas públicas que sejam direitos de todos os cidadãos e cidadãs. Muitos municípios brasileiros, de acordo com o Atlas da Notícia, ainda são considerados Desertos de Notícias, ou seja, não têm um veículo jornalístico profissional para informar os fatos à população.

Em contextos desse tipo, o que vemos é a criação de redes sociais não oficiais para informar a sociedade sobre o que se passa no bairro, na cidade ou na região. Vemos que o Jornalismo profissional, mais uma vez, perde espaço para sujeitos não profissionais que se acham capazes de apurar os fatos que ali ocorrem.

Sem toda a bagagem que um jornalista profissional carrega consigo, não temos uma atividade jornalística concreta. O que vemos são especulações feitas sobre um ocorrido, sem a checagem que informações requerem antes de serem publicadas e, ainda, a exposição de algumas situações que, até mesmo o Jornalismo profissional repensaria a publicação.

A importância do Jornalismo Local profissional vem juntamente com toda a ética, seriedade e compromisso com a Verdade que precisamos encontrar em meio à Era da Desinformação. Não se pode mais negar que as redes sociais são espaços de informação, porém saibamos como consumir os conteúdos aos quais somos expostos; devemos saber qual a procedência – quem publicou e se, realmente, determinada página é a representação de um Jornalismo de qualidade, daquilo que estamos lendo, antes de tomá-lo como verdade.

Apenas dessa forma poderemos pensar na possibilidade de conter o avanço de fake news, que trazem cada vez mais consequências perigosas à sociedade, como o negacionismo a outras ciências.

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Ana Julia Storti Rosendo é estudante de Letras – Português e Inglês na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Interessa-se pela área de Comunicação e Jornalismo, com experiência em Jornalismo On-line e projetos sobre a multimodalidade em textos jornalísticos, além da importância do Jornalismo Local em Desertos de Notícias.

Estudante de Letras – Português e Inglês na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Interessa-se pela área de Comunicação e Jornalismo, com experiência em Jornalismo On-line e projetos sobre a multimodalidade em textos jornalísticos, além da importância do Jornalismo Local em Desertos de Notícias.



quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Pensamentos sobre música e Comunicação



Por Camila Melo Ferrareli, para Coletiva.net 14/08/2024 18:17


Pequenos pensamentos sobre música e comunicação, um texto escrito por alguém que ama música e só sabe falar sobre esse assunto, só para complementar o título do artigo. Agora, iniciando de fato essa escrita, me pergunto: será que existe algum comunicador que não é apaixonado por música, filmes, séries ou cultura pop em geral? Por comunicador, me refiro aos jornalistas, publicitários e relações públicas que entram na graduação com o sonho de viver da sua arte, mas acabam tendo as redações, agências ou empresas tradicionais como postos de trabalho. A relação entre cultura e comunicação é muito próxima, e sim, estou tirando essa afirmação da minha cabeça, mas sei que essa é a minha história e a de tantos outros colegas que chegaram na comunicação com os mesmos interesses. Mas a verdade é que outros fatores nos levam a falar que essa relação é definitivamente real. Há algumas semanas, estava lendo um artigo e o tema me despertou novamente essa curiosidade: as plataformas de streaming de áudio são os novos "porteiros" do mercado musical. Era um texto científico escrito por dois pesquisadores italianos e eles afirmavam que, antigamente, o termo "porteiro" era usado para os editores das redações, as pessoas que definiam a entrada de cada assunto nos seus veículos, de acordo com as verticais ali abordadas. Até aí tudo bem, mas e a música? Os "porteiros" hoje em dia são os editores das playlists das plataformas de streaming. Eles ainda afirmam que a pessoa mais influente do mundo em 2019, na época do texto, era o editor chefe da playlist Rap Caviar, o indivíduo que precisa ouvir o seu som caso você esteja almejando sucesso na música. Ok, entendendo o que são os porteiros, acaba aí a relação entre música e comunicação? Não, esse é só mais um ponto de ligação não somente entre os assuntos, mas também entre o dia a dia e as funções que cada setor exerce. Mas voltando à curadoria, outra coisa me chama a atenção: a música é tratada como uma notícia, que precisa seguir alguns critérios para ser veiculada, como a novidade e a relevância. E é apenas nesse sentido que acredito que a curadoria das plataformas de streaming se distancia dos meios tradicionais de comunicação, pois sabemos que não é possível viver apenas de novidades e que a relevância é variável para cada ouvinte. Ainda sobre a novidade, outro ponto me chama a atenção e toma os meus pensamentos com frequência. Há uns dois anos, li uma matéria que dizia que as músicas antigas (de catálogo) seriam o material mais consumido nas plataformas de streaming nos próximos anos, e isso aconteceu bem mais rápido do que o previsto. Pare e pense em quantas canções antigas você ouviu num Reels ou num TikTok ultimamente. Pode até ser uma nova versão, mas eu aposto que a maioria foram músicas que você já conhecia, e você vai buscar por ela novamente na sua plataforma de streaming. E o que isso tem a ver com a comunicação? Tudo. Vivemos em um mundo imerso nas redes sociais, com muitas coisas novas surgindo a cada momento, mas cada vez mais temos a certeza de que o que é bom, de qualidade, sempre dura: a volta das faixas de catálogo, a necessidade de se ter uma boa curadoria, independente do canal e, por fim, essa geração de comunicadores que chegam ao mercado de trabalho com essa sede de arte. E eu espero que essa relação entre cultura pop e comunicação nunca mude, pois acredito fielmente que essa é uma das coisas mais lindas de se ver e se viver. A criatividade é uma das maiores virtudes que podemos ter e estar alimentado de arte é o que dá a beleza em tantas tarefas que exercemos no nosso cotidiano enquanto comunicadores.


Camila Melo Ferrareli é executiva de mídia digital na HOC e Doutoranda em Indústria Criativa


camilamferrareli@gmail.com